Exatamente, hoje é dia do pajador!
Se você não sabe o que é pajador, aqui trazemos uma breve explicação:
Pajadores são aqueles que recitam versos de improviso. As pajadas, ou payadas, surgiram na Argentina. O primeiro pajador que se encontra na história foi o argentino Gabino Ezeiza, e aqui no Rio Grande do Sul foi Jaime Caetano Braun. Comemora-se o dia do pajador aqui no Rio Grande do Sul nesse dia em homenagem à ele, que nascera em 30 de Janeiro de 1924, no Distrito de São Luiz Gonzaga ( hoje Bossoroca).
Estrutura das Pajadas:
As pajadas normalmente são escritas em estrofes de dez versos, que seguem uma rima na estrutura ABBAACCDDC. São acompanhadas de violão, que normalmente executa uma milonga.
Uma das mais conhecidas ( ou a mais) pajadas do Rio Grande do Sul é "Bochincho", de Jaime Caetano Braun:
A letra está embaixo do vídeo, execute ele e vá lendo a letra para perceber a estrutura da pajada.
A um bochincho – certa feita,
Fui chegando – de curioso,
Que o vicio – é que nem sarnoso,
nunca pára – nem se ajeita.
Baile de gente direita
Vi, de pronto, que não era,
Na noite de primavera
Gaguejava a voz dum tango
E eu sou louco por fandango
Que nem pinto por quireral.
Atei meu zaino – longito,
Num galho de guamirim,
Desde guri fui assim,
Não brinco nem facilito.
Em bruxas não acredito
‘Pero – que las, las hay’,
Sou da costa do Uruguai,
Meu velho pago querido
E por andar desprevenido
Há tanto guri sem pai.
No rancho de santa-fé,
De pau-a-pique barreado,
Num trancão de convidado
Me entreverei no banzé.
Chinaredo à bola-pé,
No ambiente fumacento,
Um candieiro, bem no centro,
Num lusco-fusco de aurora,
Pra quem chegava de fora
Pouco enxergava ali dentro!
Dei de mão numa tiangaça
Que me cruzou no costado
E já sai entreverado
Entre a poeira e a fumaça,
Oigalé china lindaça,
Morena de toda a crina,
Dessas da venta brasina,
Com cheiro de lechiguana
Que quando ergue uma pestana
Até a noite se ilumina.
Misto de diaba e de santa,
Com ares de quem é dona
E um gosto de temporona
Que traz água na garganta.
Eu me grudei na percanta
O mesmo que um carrapato
E o gaiteiro era um mulato
Que até dormindo tocava
E a gaita choramingava
Como namoro de gato!
A gaita velha gemia,
Ás vezes quase parava,
De repente se acordava
E num vanerão se perdia
E eu – contra a pele macia
Daquele corpo moreno,
Sentia o mundo pequeno,
Bombeando cheio de enlevo
Dois olhos – flores de trevo
Com respingos de sereno!
Mas o que é bom se termina
- Cumpriu-se o velho ditado,
Eu que dançava, embalado,
Nos braços doces da china
Escutei – de relancina,
Uma espécie de relincho,
Era o dono do bochincho,
Meio oitavado num canto,
Que me olhava – com espanto,
Mais sério do que um capincho!
E foi ele que se veio,
Pois era dele a pinguancha,
Bufando e abrindo cancha
Como dono de rodeio.
Quis me partir pelo meio
Num talonaço de adaga
Que – se me pega – me estraga,
Chegou levantar um cisco,
Mas não é a toa – chomisco!
Que sou de São Luiz Gonzaga!
Meio na volta do braço
Consegui tirar o talho
E quase que me atrapalho
Porque havia pouco espaço,
Mas senti o calor do aço
E o calor do aço arde,
Me levantei – sem alarde,
Por causa do desaforo
E soltei meu marca touro
Num medonho buenas-tarde!
Tenho visto coisa feia,
Tenho visto judiaria,
Mas ainda hoje me arrepia
Lembrar aquela peleia,
Talvez quem ouça – não creia,
Mas vi brotar no pescoço,
Do índio do berro grosso
Como uma cinta vermelha
E desde o beiço até a orelha
Ficou relampeando o osso!
O índio era um índio touro,
Mas até touro se ajoelha,
Cortado do beiço a orelha
Amontoou-se como um couro
E aquilo foi um estouro,
Daqueles que dava medo,
Espantou-se o chinaredo
E amigos – foi uma zoada,
Parecia até uma eguada
Disparando num varzedo!
Não há quem pinte o retrato
Dum bochincho – quando estoura,
Tinidos de adaga – espora
E gritos de desacato.
Berros de quarenta e quatro
De cada canto da sala
E a velha gaita baguala
Num vanerão pacholento,
Fazendo acompanhamento
Do turumbamba de bala!
É china que se escabela,
Redemoinhando na porta
E chiru da guampa torta
Que vem direito à janela,
Gritando – de toda guela,
Num berreiro alucinante,
Índio que não se garante,
Vendo sangue – se apavora
E se manda – campo fora,
Levando tudo por diante!
Sou crente na divindade,
Morro quando Deus quiser,
Mas amigos – se eu disser,
Até periga a verdade,
Naquela barbaridade,
De chínaredo fugindo,
De grito e bala zunindo,
O gaiteiro – alheio a tudo,
Tocava um xote clinudo,
Já quase meio dormindo!
E a coisa ia indo assim,
Balanceei a situação,
- Já quase sem munição,
Todos atirando em mim.
Qual ia ser o meu fim,
Me dei conta – de repente,
Não vou ficar pra semente,
Mas gosto de andar no mundo,
Me esperavam na do fundo,
Saí na Porta da frente…
E dali ganhei o mato,
Abaixo de tiroteio
E inda escutava o floreio
Da cordeona do mulato
E, pra encurtar o relato,
Me bandeei pra o outro lado,
Cruzei o Uruguai, a nado,
Que o meu zaino era um capincho
E a história desse bochincho
Faz parte do meu passado!
E a china? – essa pergunta me é feita
A cada vez que declamo
É uma coisa que reclamo
Porque não acho direita
Considero uma desfeita
Que compreender não consigo,
Eu, no medonho perigo
Duma situação brasina
Todos perguntam da china
E ninguém se importa comigo!
E a china – eu nunca mais vi
No meu gauderiar andejo,
Somente em sonhos a vejo
Em bárbaro frenesi.
Talvez ande – por aí,
No rodeio das alçadas,
Ou – talvez – nas madrugadas,
Seja uma estrela chirua
Dessas – que se banha nua
No espelho das aguadas!
Para mais algumas informações, seguem alguns links que ajudam =D
http://www.paginadogaucho.com.br/poes/diapajador.htm#2
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jayme_Caetano_Braun
http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/2622990
http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=4744&cat=Cordel&vinda=S
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pajada
É isso aí pessoal, dúvidas ou informações extras por favor, usem os Comentários!!!
Até a próxima.
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